terça-feira, 15 de junho de 2010

Introdução - Parte 1

 Os sociólogos chamam de sociedade tradicional aquela que antecede a sociedade moderna. Essa sociedade é assim chamada porque deriva da tradição, particularmente da tradição sagrada. Essa mesma tradição influencia toda a organização social, de modo que estabelece uma interpretação única e geral para solucionar os problemas, o que legitima a ordem social existente. 
Fala-se numa visão de mundo compartilhada, que além de ser uma elaboração teórica (na qual todos os indivíduos possuem como alicerce, sem contestações), é um modo de vida compartilhado, referência para a ação. O autor do texto chama isso de "eticidade". Digamos que seja a teoria valorativa aliada à prática. Pensa-se igual, vive-se igual. Até aí não há problemas, pois o pertencimento do indivíduo a uma comunidade política é confundido com o reconhecimento de compartilhar a mesma eticidade. 
O problema surge quando passa a haver o dissenso constante (não-eventual) dentro da comunidade. Foi justamente através dos dissensos na sociedade tradicional que se organizou a sociedade moderna, onde há a convivência de uma pluralidade de eticidades. 
Se há várias eticidades há, consequentemente, pensamentos distintos, modos de vida distintos e comportamentos distintos. Muitos destes incompatíveis e inconciliáveis. Lembrando que o que legitima a sociedade tradicional é a tradição, perpetuada como interpretação única, o que passa a legitimar a sociedade moderna?
Procura-se responder essa pergunta com a ideia do contrato social. Os indivíduos mantidos no estado de natureza (anterior ao Estado), instauram a sociedade civil por meio do contrato social.  O estado de sociedade em que vivemos, então, não é fruto de uma mera tradição, mas sim do consentimento dos indivíduos. Aí surge o cidadão. E tudo isso é legitimado pelo contrato social, que revela a necessidade de encontrar a legitimidade para a organização social moderna em seu próprio funcionamento. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário